Anos 70 no Brasil
Aqui no Brasil, mesmo com a forte censura, a produção cultural dos anos 70 foi bastante vasta e criativa. Trinta anos depois, muitos conceitos dessa época voltaram. Na moda, predominam as sandálias plataforma, as calças boca-de-sino, as blusas tomara-que-caia e o jeans pintado e bordado. As cores vibrantes nas roupas também estão voltando com tudo. As confortáveis poltronas sacco, mais conhecidas como pufes, novamente estão fazendo parte da decoração das casas. Até as Frenéticas voltaram! Muitas danceterias faturam alto promovendo noites só de disco music e até a música popular brasileira daquele período está sendo bastante requisitada.
Nossa roqueira Rita Lee estourava na carreira solo, já longe dos Mutantes, com o álbum Fruto Proibido (1975). Segundo a crítica, é um marco no pop/rock brasileiro. Desse disco saiu a famosíssima Ovelha Negra, marca registrada de Rita até hoje. No ano seguinte foi a vez de Babilônia. O disco contava com sucessos como Miss Brasil 2000, Jardins da Babilônia e Eu e Meu Gato (tema da novela "O Pulo do Gato"). Rita promoveu o álbum com um show de vanguarda, lembrado carinhosamente por ela até hoje. Foi o primeiro grande espetáculo brasileiro com a evidente preocupação de som, luz, cenário e figurinos, que mais tarde se tornaria uma das características constantes de Rita.
Devido à forte repressão política, essa década de ditadura acabou levando injustamente a denominação de "vazio cultural", apesar de ser um período de inovação no comportamento, nas artes e na imprensa. "As pessoas tiveram que reinventar modos de fazer arte para driblar a censura", explica o professor de Filosofia da USP Celso Favaretto.
Na política, os brasileiros viviam a ditadura e a intensa repressão e, ao mesmo tempo, o chamado Milagre Econômico. O plano, criado pelo então ministro Delfim Neto para impulsionar o consumo, estimulava financiamentos para a compra de carros e da casa própria. "As pessoas tinham a impressão de viver um momento de prosperidade econômica. No entanto, esse período durou apenas até a crise do petróleo (1973). Obras faraônicas nunca foram terminadas", conta Favaretto.
Esse panorama levou muitos artistas ao exílio e ao silêncio, mas, ao mesmo tempo, motivou diversas manifestações culturais alternativas. As novas idéias eram divulgadas por meio de filmes em Super-8, poesias de mimeógrafo distribuídas de mão em mão, revistas e jornais de produção e circulação precárias, músicas e peças de teatro que abusavam das metáforas. Uma das peças de destaque foi Ponto de Partida, que abordava o drama de um homem que aparece enforcado sem explicação, em uma clara alusão ao caso da morte do jornalista Wladimir Herzog, "suicidado" dentro da prisão por seus torturadores em 1975. As peças contestavam aquele momento de repressão por meio do deboche também e traziam para os palcos a liberação sexual, o uso de drogas e o rock’n’roll.
O evento Banquete dos Mendigos virou um marco dessa época. Foram lidos trechos da Declaração Universal dos Direitos Humanos e músicos se revezavam no palco do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, no ato realizado no dia 10 de dezembro de 1973. "No início, o show era em auto-benefício, porque eu estava sem grana. Depois, o ato acabou tomando dimensões políticas", lembra o cantor e compositor Jards Macalé.
Compositores como Caetano Veloso, Gilberto Gil e Chico Buarque fortaleceram suas carreiras, e diversos nomes se consolidaram, como João Bosco, Egberto Gismonti, Elis Regina, Hermeto Pascoal, Jorge Ben (depois Benjor) e Tom Zé.
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